É impossível estar a estudar Cibercultura e não ficar impressionado com o impacto que tiveram dois vídeos que lançados na internet nestas semanas. Um sobre agressões a um rapaz da Figueira da Foz, outro sobre as agressões de um polícia a um adepto do Benfica, à frente do seu pai e dos seus filhos.
Nos dois casos conseguimos ter a certeza de que não havia possibilidade de se fazer justiça se as câmaras não estivessem lá, a filmar, naquele momento. E que tão importante como as câmaras foram as redes sociais, que fizeram com que os filmes fossem vistos milhares e milhares de vezes, criando ondas de indignação online e offline.
Este poder de amplificação nem sempre é positivo. Há grupos que se formam para mostrar solidariedade com as vítimas, mas outros que têm como objectivo apelar à vingança e à “justiça” feita pelas próprias mãos e não pelos tribunais.
Seja como for, o primeiro grupo é maior e, pelo menos nestes dois casos, foi o que conseguiu provocar a mudança. É espantoso ver a sociedade a manifestar-se nas redes sociais e a fazer com que as coisas aconteçam offline. Com que os ministros comentem, com que as polícias investiguem, com que as pessoas que têm autoridade se preocupem.
Este é o poder benéfico da internet e que nos transporta, também, para aquilo que Inês Amaral refere em Inês Amaral, em “Comunidades virtuais: activismo e militância num novo espaço público”): as potencialidades do ciberespaço como “um meio de comunicação e também de acção, tanto por parte de indivíduos como das comunidades virtuais”.
“Estas redes sociais – sejam utilizadas de forma colectiva ou individual remetendo para um grupo – são criadas em torno de interesses comuns e, com as potencialidades técnicas da rede, permitem tomar acções numa nova esfera pública, com uma audiência à escala global. E, claro, permanentemente observada e noticiada (ainda que de forma selectiva, como seja a mediatização dos protagonistas da notícia) pelos media tradicionais”, continua Inês Amaral. Foi exactamente o que aconteceu nestes dois casos, com os jornais tradicionais a fazerem eco do que se passava nas redes sociais.
Novas Formas de Vida Pública
quarta-feira, 27 de maio de 2015
segunda-feira, 25 de maio de 2015
Facebook, mais que uma forma de entretenimento
O Facebook faz, atualmente, parte
da nossa vida quotidiana. Tornou-se uma rotina e quase como obrigatória a sua
consulta e atualização diária. Desde publicações de fotos a partilhas de
opiniões, o Facebook é a tradução da liberdade pessoal e uma forma de
entretenimento.
Há alguns motivos que fazem desta
rede social tão bem sucedida quanto se tornou. O que a destacou de todas as
outras redes, por exemplo do MySpsace ou do HI5 é a junção das mais diferentes
funcionalidades, por exemplo jogos como forma de entretenimento, um meio para
conhecer pessoas novas e, em geral, a produção e promoção da individualidade (a
publicação de fotos e partilhas de opiniões no mural).
A fama deste website é inquestionável.
Uma rede social utilizada por todo o mundo. Um palco pessoal, uma forma de as
pessoas se afirmarem socialmente, não só perante os seus amigos mas também
perante simples conhecidos ou apenas seguidores. Assumiu um grau de importância
tão elevado que já tem repercussões a nível mundial. Mais do que uma rede
social e forma de matar o tempo, o Facebook é agora uma arma contra o poder, um
modo essencial das empresas chegarem ao seu público alvo… a construção de uma
sociedade livre. Online.
O que faz deste website funcionar
como esta tal sociedade? Em primeiro lugar, o motivo pelo qual todas ou quase
todas pessoas aderiram ao próprio: a forma como as pessoas se conectam. O
Humano é um ser social e a necessidade de se encontrar em contacto com outros,
principalmente numa época onde o afastamento físico entre as pessoas cada vez
mais se torna inevitável, foi uma das razões para o Facebook ter ganho a
dimensão que ganhou. Funcionando primeiramente como meio de comunicação e
divulgação de opiniões pessoais foi ganhando adeptos, até ao ponto que, hoje em
dia, utilizar o facebook diariamente quase se tornou como uma necessidade, uma
rotina para muitas pessoas.
Em segundo lugar, é uma excelente
forma das empresas se relacionarem com os seus consumidores. É rara a empresa
que, hoje em dia, não tenha uma página oficial de facebook. Páginas essas que
tendem a ser atualizadas frequentemente, ora com publicações, ora novidades nos
produtos que oferecem, ora descontos, ora concursos, etc… Um mundo onde as
empresas podem finalmente chegar às pessoas que querem e onde as pessoas que
querem podem seguir o trabalho das marcas que realmente pretendem seguir. Até
do ponto de vista pessoal poderá ser utilizado na divulgação do trabalho de uma
só pessoa através da partilha dos seus produtos.
Em terceiro lugar, atingiu uma
dimensão social totalmente fora do comum. Agora é possível criarem-se
autênticas revoltas e movimentos sociais a partir de grupos que se unem nesta
rede social. Uma forma de se partilhar aquilo que os governos não querem que se
saiba, uma forma livre de tornar pública a informação que em tempos seria
escondida. E até com o “Facebook Safety Check” é possível podermos informar os
nossos amigos e familiares que estamos seguros perante uma tragédia, ou uma
catástrofe natural. Uma autêntica vida virtual.
Facebook Safety Check: https://www.facebook.com/about/safetycheck/
domingo, 24 de maio de 2015
A importância do Real no Virtual
Encontramo-nos perante um mundo
dominado pelas interações humanas através de redes de computação. As atividades
que se praticam entre estas redes dividem-se pelos jogos, pelos blogs, pelas
redes sociais, pelos chats, etc. Uma forma de criar uma sociedade virtual
associada a todos os tipos de movimentos intelectuais e culturais. Uma
transmissão constante e imediata de informação.
A forma como a informação é
transmitida deve-se a todos os participantes neste processo. Cada pessoa poderá
dizer/escrever o que quiser numa das plataformas anteriormente enunciadas e
transmitir o que quiser ao mundo. Uma forma relativamente recente de o fazer,
já que há relativamente pouco tempo uma parte do mundo vivia sob regimes
ditatoriais sem liberdade de expressão. É de admirar a forma como as pessoas se
unem e combatem pelos mesmos objetivos, pelos mesmos princípios. Um ciberespaço
onde todas as pessoas se juntam para viverem e sobreviverem, independentemente
da sua localização, etnia, género, etc.
Neste novo mundo encontramos uma
sociedade que já duvida dos próprios media. As pessoas assumem uma pose crítica
perante a informação que lhes é transmitida, pesquisam e duvidam dela até que
consigam atingir a verdade. É interessante como a manipulação da informação nunca
foi tão fácil de ser feita, no entanto, cada vez menos eficaz devido a esta
pose assumida por muitas pessoas que se esforçam cada vez mais por encontrar
fontes credíveis. As pessoas partilham as suas opiniões nas redes sociais, e
estas serão escutadas por dezenas/centenas/milhares de pessoas. As opiniões são
livres e atingem uma quantidade de pessoas inacreditável.
Surge então a questão da
identidade. O quão reais são os nossos movimentos considerados virtuais?
Todos os nossos comentários e
ideias podem ser avaliados e classificados. Seja qual for a nossa a nossa
teoria ou forma de pensar, agora há sempre uma opção de “like” e de “dislike”
ou então uma avaliação entre um e dez. Ora as pessoas registam-se e apoiam
estes movimentos, ora não o apoiam e tirando proveito da mesma liberdade de
expressão que nós, até poderão iniciar um movimento contrário. Mas a força que
esses movimentos terão enquanto as pessoas não saírem da frente do ecrã será
nula ou quase nula.
Na verdade, não nos podemos
esquecer que ainda há muita gente online que prefere continuar como anónima.
Seguir e acreditar em informações de uma pessoa anónima é algo aceitável e até
feito com alguma regularidade. As pessoas dão-se por “nicknames” e a sua
verdadeira identidade é escondida para que estas não passem perigo. Estas
pessoas podem ser impulsionadoras de movimentos sociais importantíssimos, mas
não nos podemos esquecer que a presença física necessária a levá-los assume um
grau ainda mais elevado de importância. Só assim poderemos transportar a vida
virtual para a vida real.
A internet é, sem sobra de
dúvidas, um dos locais mais importantes para se mudar o mundo. A possibilidade
de transformar algo existente no mundo virtual para o mundo considerado real,
físico é algo de fantástico e nunca antes visto noutras gerações. Ultrapassámos
a fase dos rumores, da palavra passada de pessoa para pessoa, dos panfletos.
Agora podemos atingir um número incrível de pessoas que se sentem igualmente
injustiçadas acerca do mesmo problema. Mas para fazer a diferença temos que
tornar estes movimentos… Reais.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Movimentos sociais em rede
Na sequência da leitura da
introdução do livro de Manuel Castells “Redes de Indignação e Esperança –
Movimentos Sociais na Era da Internet” decidi fazer um breve comentário.
Castells debruça-se sobre o impacto da internet e das redes sociais no mundo
atual. Admitindo colocar de lado as suas crenças fez uma análise e uma reflexão
acerca dos movimentos sociais em rede, nas plataformas digitais.
Num mundo devastado por crises,
por corrupção, por falta de esperança. Os ditadores podiam ser abalados pelas
pessoas que lhes obedeciam, mesmo que tivessem que sofrer. Todos eram
suspeitos, corruptos e mentirosos. O modo como se juntaram e reestruturam teve
início na internet, nas redes sociais. Um local onde as pessoas são livres de
se expressarem. Fora do controlo das empresas e do governo que sempre
“monopolizaram os canais de comunicação enquanto fundação do seu poder” (p.20).
Agora, qualquer pessoa de
qualquer idade ou género pode partilhar a sua opinião e fazer História. É o
modo como as pessoas partilham as suas emoções e as redes que criam entre si
que vai permitir que ultrapassem o medo, que vai gerar união e fazer com que
progridam, que não sejam intimidadas. Irão confrontar os detentores do poder
face às injustiças, à pobreza, à crise económica, à falta de democracia, etc.
O autor parte da premissa que
““as relações de poder são constitutivas da sociedade, porque aqueles que têm
poder constroem as instituições da sociedade de acordo com os seus valores e
interesses” (p.22). Poder que é exercido coercivamente ou pela construção de
significado nas mentes das pessoas através de mecanismos de manipulação
simbólica. Sublinha ainda que numa sociedade onde existe poder, também existirá
contrapoder, a necessidade das pessoas combaterem as instituições da sociedade
com o propósito de reclamar os seus interesses. Uma teoria bastante semelhante
à perspetiva do conflito de Karl Marx, a luta entre uma classe dominante e uma
outra.
Nesta introdução, Castells dá
enfâse a ao conceito que ele mesmo chama de autocomunicação de massas, o “o uso
da Internet e das redes sem fios como plataformas de comunicação digital”
(p.24). . A multiplicidade de emissores e recetores atinge um enorme potencial
quanto à transmissão de mensagens. A autocomunicação de massas é muito difícil
de ser controlada pelos governos e empresas e oferece aos atores sociais uma
plataforma onde as pessoas se poderão expressar livremente. Diz ser este o
motivo pelo qual os governos tanto temem a internet.
De facto, esta é uma plataforma
autónoma e é isso mesmo que permite que permite aos movimentos atingir a
sociedade, sem que os detentores do poder tenham o controlo da comunicação. Uma
forma quase instantânea de criar novas comunidades através de um mundo
tecnológico.
Será através da luta contra os
opressores, superando o medo e a ansiedade perante as ameaças incontroláveis,
que as pessoas irão lutar pelos seus interesses. Independentemente da génese
destes movimentos, estes são criados na maior parte das vezes com base numa
explosão emocional e num sentimento de empatia generalizado. Será então na luta
pela recuperação dos seus direitos, direitos que lhes foram retirados em prol
dos interesses de quem no poder se encontra, que irão permanecer juntas e manterem
vivo o sentimento de esperança.
quarta-feira, 20 de maio de 2015
O poder das redes sociais
É interessante em relação ao atentado em Paris se o ciberespaço não existisse. Quando é que o mundo saberia do atentado? Talvez algumas horas depois. Não seriam pessoas comuns, como nós, a dar as notícias, mas as rádios e as televisões, os jornais.
Saberíamos menos, com menos pormenor, com menos emoção. O que aconteceu talvez até passasse despercebido. Se partilhássemos a nossa opinião era com a família, com os amigos, os colegas. Mesmo que nos indignássemos nunca seríamos ouvidos por tantas pessoas e nunca ouviríamos a opinião de tantas pessoas. Nunca tanta gente se encontraria nas ruas, saindo do espaço online para o espaço offline.
“As novas redes sociais na rede, derivados das potencialidades das comunicações mediadas por computador e dos chamados softwares sociais, remetem para activismo e militância. Tradicionalmente associados à área sócio-política, estes conceitos ganham no ciberespaço uma amplitude maior. As ferramentas da web permitem aos utilizadores transpor estas noções para a escala global, potenciando as relações interpessoais e a interacção social em torno de interesses e causas comuns” (Inês Amaral, em “Comunidades virtuais: activismo e militância num novo espaço público”).
Podemos concluir que neste caso as redes sociais permitiram amplificar as manifestações de cidadania (porque milhares de pessoas se manifestaram a favor dos direitos humanos) e dos protestos (contra o terrorismo). Mas também podemos ver estes acontecimentos de outra maneira: O objectivo dos terroristas é esse mesmo: provocar o terror. Se não soubessem que actuavam para tantas pessoas, graças ao ciberespaço, será que faziam os atentados?
Temos muitos exemplos de imagens de terror do “Estado Islâmico” nas redes sociais. Como as execuções ou a destruição de património histórico.
Ao mesmo tempo, também promovem a militância. É uma militância estranha para a maior parte de nós, porque se faz contra os direitos humanos, mas a verdade é que há jovens de todo o mundo a alistarem-se em movimentos como o Estado Islâmico. E como é que são recrutados? Precisamente através das mesma redes sociais.
Saberíamos menos, com menos pormenor, com menos emoção. O que aconteceu talvez até passasse despercebido. Se partilhássemos a nossa opinião era com a família, com os amigos, os colegas. Mesmo que nos indignássemos nunca seríamos ouvidos por tantas pessoas e nunca ouviríamos a opinião de tantas pessoas. Nunca tanta gente se encontraria nas ruas, saindo do espaço online para o espaço offline.
“As novas redes sociais na rede, derivados das potencialidades das comunicações mediadas por computador e dos chamados softwares sociais, remetem para activismo e militância. Tradicionalmente associados à área sócio-política, estes conceitos ganham no ciberespaço uma amplitude maior. As ferramentas da web permitem aos utilizadores transpor estas noções para a escala global, potenciando as relações interpessoais e a interacção social em torno de interesses e causas comuns” (Inês Amaral, em “Comunidades virtuais: activismo e militância num novo espaço público”).
Podemos concluir que neste caso as redes sociais permitiram amplificar as manifestações de cidadania (porque milhares de pessoas se manifestaram a favor dos direitos humanos) e dos protestos (contra o terrorismo). Mas também podemos ver estes acontecimentos de outra maneira: O objectivo dos terroristas é esse mesmo: provocar o terror. Se não soubessem que actuavam para tantas pessoas, graças ao ciberespaço, será que faziam os atentados?
Temos muitos exemplos de imagens de terror do “Estado Islâmico” nas redes sociais. Como as execuções ou a destruição de património histórico.
Ao mesmo tempo, também promovem a militância. É uma militância estranha para a maior parte de nós, porque se faz contra os direitos humanos, mas a verdade é que há jovens de todo o mundo a alistarem-se em movimentos como o Estado Islâmico. E como é que são recrutados? Precisamente através das mesma redes sociais.
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Uma nova forma de expressão.
Quando escolhi o tema “Novas formas de vida pública: cidadania, participação política e protesto”, em Cibercultura, a primeira coisa de que me lembrei foi do ataque ao jornal francês Charlie Hebdo. Porquê? Porque o que se passou naquele dia é um bom exemplo de como a internet mudou a nossa forma de exercer os nossos direitos (cidadania), de participar politicamente (influenciando o exercício do poder por parte de quem governa) e de protestar (online e offline).
No trabalho intitulado “Comunidades virtuais: activismo e militância num novo espaço público”, Inês Amaral escreve que “o ciberespaço assume quatro características distintas de qualquer outro meio de comunicação: desterritorialidade, imaterialidade, tempo-real e interactividade”.
Isto significa que o ciberespaço, em que se desenvolve a cibercultura, não tem um território geográfico, um espaço físico, em que as pessoas se encontram – daí a desterritorialidade. O ciberespaço permite que as pessoas de todo o planeta comuniquem entre si em tempo real, e produzam e recebam informação sem precisarem de se encontrar num espaço físico. Há uma espécie de eliminação do espaço e do tempo.
No mesmo trabalho, Inês Amaral reflecte que a Cultura de Massas também depende da tecnologia e também envolve comunicação. Mas, neste caso, a tecnologia (das televisões, da rádio) só funciona num sentido, do emissor para o receptor e é igual para todos os receptores, apesar de estes formarem grupos heterogéneos. E escreve: “O novo cenário digital remete, necessariamente, para a individualização da comunicação. Do modelo tradicional de comunicação vertical e unilateral, passamos à comunicação horizontal e de dimensão bilateral, interactiva”.
Um bom exemplo do que que são o ciberespaço e a cibercultura são, como escrevi atrás, os acontecimentos que se seguiram ao ataque terrorista em França. Um ou dois minutos depois do atentado no jornal francês, os franceses, os portugueses, os alemães, os argentinos, os brasileiros, os americanos, tiveram acesso a essa informação e, pouco depois, já circulava um filme dos acontecimentos feito por um cidadão anónimo, que podia ser qualquer um de nós.
A partir desse momento, todas as pessoas com acesso à internet em todo o mundo puderam acompanhar o que se estava a passar em Paris quase em tempo real.
Mas não se limitaram a receber a informação. Apesar de o atentado ter acontecido a muitos milhares de quilómetros de distância de Portugal, pouco depois a fotografia de perfil de muitos cidadãos de todo o mundo era a um rectângulo negro com a frase “Je Suis Charlie”, que se tornou um símbolo de defesa dos direitos humanos (à vida e à liberdade de expressão) e, ao mesmo tempo, de protesto (contra quem violou aqueles direitos).
Ao mudar o seu perfil e ao partilhar as caricaturas que centenas de artistas desenharam no próprio dia, os cidadãos estavam a protestar, mas também a participar politicamente, a exigir aos políticos que agissem de forme firme contra o que tinha acontecido.
Outro aspecto curioso é que o protesto não se ficou por esse novo espaço público, que é o ciberespaço. Os protestos online prosseguiram offline –nessa mesma noite e no dia seguinte as pessoas, sem se conhecerem, juntaram-se em manifestações de protesto contra o terrorismo, em cidades de toda a Europa e levaram os políticos a fazer o mesmo.
Essas mesmas manifestações offline regressaram quase imediatamente ao espaço online, porque os cidadãos partilharam, quase em tempo real, outra vez, os filmes e as fotografias dos protestos através do Facebook, do Twitter, do Instagram e de outras redes sociais.
No trabalho intitulado “Comunidades virtuais: activismo e militância num novo espaço público”, Inês Amaral escreve que “o ciberespaço assume quatro características distintas de qualquer outro meio de comunicação: desterritorialidade, imaterialidade, tempo-real e interactividade”.
Isto significa que o ciberespaço, em que se desenvolve a cibercultura, não tem um território geográfico, um espaço físico, em que as pessoas se encontram – daí a desterritorialidade. O ciberespaço permite que as pessoas de todo o planeta comuniquem entre si em tempo real, e produzam e recebam informação sem precisarem de se encontrar num espaço físico. Há uma espécie de eliminação do espaço e do tempo.
No mesmo trabalho, Inês Amaral reflecte que a Cultura de Massas também depende da tecnologia e também envolve comunicação. Mas, neste caso, a tecnologia (das televisões, da rádio) só funciona num sentido, do emissor para o receptor e é igual para todos os receptores, apesar de estes formarem grupos heterogéneos. E escreve: “O novo cenário digital remete, necessariamente, para a individualização da comunicação. Do modelo tradicional de comunicação vertical e unilateral, passamos à comunicação horizontal e de dimensão bilateral, interactiva”.
Um bom exemplo do que que são o ciberespaço e a cibercultura são, como escrevi atrás, os acontecimentos que se seguiram ao ataque terrorista em França. Um ou dois minutos depois do atentado no jornal francês, os franceses, os portugueses, os alemães, os argentinos, os brasileiros, os americanos, tiveram acesso a essa informação e, pouco depois, já circulava um filme dos acontecimentos feito por um cidadão anónimo, que podia ser qualquer um de nós.
A partir desse momento, todas as pessoas com acesso à internet em todo o mundo puderam acompanhar o que se estava a passar em Paris quase em tempo real.
Mas não se limitaram a receber a informação. Apesar de o atentado ter acontecido a muitos milhares de quilómetros de distância de Portugal, pouco depois a fotografia de perfil de muitos cidadãos de todo o mundo era a um rectângulo negro com a frase “Je Suis Charlie”, que se tornou um símbolo de defesa dos direitos humanos (à vida e à liberdade de expressão) e, ao mesmo tempo, de protesto (contra quem violou aqueles direitos).
Ao mudar o seu perfil e ao partilhar as caricaturas que centenas de artistas desenharam no próprio dia, os cidadãos estavam a protestar, mas também a participar politicamente, a exigir aos políticos que agissem de forme firme contra o que tinha acontecido.
Outro aspecto curioso é que o protesto não se ficou por esse novo espaço público, que é o ciberespaço. Os protestos online prosseguiram offline –nessa mesma noite e no dia seguinte as pessoas, sem se conhecerem, juntaram-se em manifestações de protesto contra o terrorismo, em cidades de toda a Europa e levaram os políticos a fazer o mesmo.
Essas mesmas manifestações offline regressaram quase imediatamente ao espaço online, porque os cidadãos partilharam, quase em tempo real, outra vez, os filmes e as fotografias dos protestos através do Facebook, do Twitter, do Instagram e de outras redes sociais.
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